segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Acendi. Não havia outra respiração naquele local além da minha. Foi impulso. Ou apenas uma escolha idiota. Mas não houve tempo para repensar. Num segundo minha consciência me empurrou até a morte materializada juntamente com a paz de espírito. É isso que vendem. Morte e paz de espírito enrolados e atraentes.


Eu estava respirando câncer, meus pulmões sabiam disso. Meus olhos não ligavam, havia certo magnetismo entre eles e a foto a sua frente. Eu sorri. Não sei bem o porquê, nem mesmo sei o que senti naquele momento. Foi confuso. Aí eu apaguei a morte, mas a paz de espírito continuou em mim. Lição de hoje: Não é necessário viver um vício contendo a morte, apenas para conseguir se sentir bem. Há um vício muito melhor que não te mata, mas sim, te dá cada vez mais vida, e é claro, te faz se sentir inteiramente bem.
Amor próprio é aquela pontada que a gente sente no peito, como se a nossa consciência implorasse silenciosamente para que parássemos de insistir naquilo que não nos levará a lugar algum. E a gente insiste em tentar seguir em frente em ruas sem saída. A única solução é voltar. Voltar e trilhar um novo caminho. Uma nova tentativa. É aquele nó que se forma em nossa garganta, nos impedindo de chorar, porque as lágrimas deterioram toda nossa superfície supostamente forte, e a gente se expõem, numa fragilidade incontestável. É quando a gente se abraça, tentando encontrar um ponto de fuga de pensamentos melancólicos e doloridos, procurando no Amanhã a cura para o Ontem e o alívio para o Hoje, com pensamentos de “Isso vai passar.”

Nós sentimos um prazer amargo na auto-tortura; Pisamos sobre cacos de vidro. Sobre aquilo que se quebrou e não pode ser consertado. Naquilo que machuca incessantemente. A dor afiada perfura nossa pele e parecemos amar nos sentir sangrando.

E quando isso acontece, é sinal de que a dor está partindo seu amor próprio em pedaços e parece ser quase impossível juntá-los. Mas a gente sempre junta. A gente sempre escapa de ruas sem saída. A gente sempre para de pisar em cacos. A gente sempre cicatriza o ontem.

É tudo uma questão de tempo, porque ele transforma os cacos em grama verde. Abre caminhos paralelos à ruas sem saída, ele transforma o ontem em breves lembranças vagas...

Mas as feridas ele não cura, apenas as enfraquece.

Endless Entertainment

Tive um daqueles momentos em que surgem epifanias; um momento muito breve, enquanto eu observava a água da chuva escorrer pela janela escura do quarto. De um jeito ou de outro, a chuva sempre me leva a pensar... As vezes dói. As vezes não faz sentido. As vezes é inútil. Mas é inevitável.

De qualquer modo, voltando ao foco do pensamento-epifania , eu percebi que mais difícil do que deixar que alguém entre na minha vida, é manter essa pessoa por perto. Nós podemos começar com um oi-te-vi-hoje ou um elogio ou qualquer forma interessante de se iniciar um diálogo. - Um diálogo bem elaborado é a forma mais fácil de prender minha atenção. As pessoas com conversas agradáveis são raras. A maioria foca o diálogo em si e acaba num monólogo, e eu acabo sendo a platéia.

A gente não sabe usar o tempo a nosso favor; pois o mesmo tempo que faz uma relação evoluir, também a desgasta. É exatamente com isso que é complicado lutar: O desgaste. Até que tudo vira pó e o vento se encarrega de levar para longe.


...Mas o fato de deixar-alguém-entrar e de manter-alguém-na-sua-vida não é mais difícil do que perder alguém que você ama. Nenhuma sensação – E estamos falando de muitas sensações – é pior do que perder alguém. Por isso a gente tenta. Por isso a gente espera que o nascer do sol amenize uma briga e o tempo a apague. Por isso a gente engole o orgulho como se fosse café amargo. Porque é melhor sentir a breve dor de um orgulho partido do que a partida de alguém essencial.