quinta-feira, 28 de abril de 2011

Autodestruição

Ele acorda com o cheiro do álcool ainda em suas roupas. Coça seus cabelos negros bagunçados em direção ao banheiro.


Olha-se no espelho e vê sua cara de ressaca. Olhos fundos, cara tão amassada quanto suas roupas, agacha-se e procura uma cartela de comprimidos já quase vazia no fim do armário sob a pia.


Dirige-se à cozinha. Olha para a pia e ali vê sua vida: as panelas e os pratos sujos uns sobre os outros fazem uma analogia perfeita com seus pensamentos confusos.


Abre o armário sobre o micro-ondas e tateia-o até encontrar um copo de vidro pequeno, bem lá no fundo.
Enche-o de água e enquanto joga o último comprimido da cartela na boca. Bebe a água e volta ao banheiro. Ali, despe-se e entra em um banho gelado.


Começa a se lembrar dos momentos da noite anterior, da merda (desculpem-me a palavra) que fizera. Precisava consertar aquilo tudo. Era a sua garota, não podia deixá-la ir, simplesmente esvairando-se de seus braços. Desliga o chuveiro e enrola-se na toalha, parando, mais uma vez, na frente do espelho.


Observa sua imagem e põe-se a pensar no que fazer ou dizer quando a encontrasse.
“Precisamos conversar” – disse baixo – “Não, não. Grosso demais”
“Me desculpa, eu te amo” – tentou mais uma vez – “Não. Direto demais, carente demais. Definitivamente não”, tinha medo de mostrar seus sentimentos demais.
“Eu devia ligá-la, convidá-la para um café...”
“Não, ainda está com raiva. Não hoje.”
E nessa foi, por alguns minutos, repetindo e repassando suas falas, até que não soasse tão idiota aos seus ouvidos.


Dirigiu-se à porta e estava para girar a maçaneta quando hesitou. Parou, pensou, coçou de novo a cabeça. Voltou, sentou-se no sofá velho, abrindo um sorriso no rosto.


Conseguira. Criara seu personagem, seguindo a risca os ensinamentos de Stanislavski. Atingira o ápice de sua carreira. Mas não só isso, ele levara à ruína a sua sanidade. Era um personagem. Nada mais, nada menos do que um personagem.
Era uma cria stanislavskiana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário